Por causa da guerra e no ano da guerra, muitos despertámos para a política. Juntávamo-nos em Lisboa sob a senda da Justiça com J grande. Éramos muitos guineenses e amigos portugueses da Guiné-Bissau. Todos preocupados com o país. Em comprometimento patriota, reuníamos normalmente no Holiday Inn. Tínhamos reuniões diárias, ou quase. Até nos dávamos ao luxo de enviar textos à Junta em Abidjan. Tenho as fotos que ilustram os espíritos. Fazíamos conferências públicas. Infelizmente, outros já não estão entre nós: o saudoso Pepito e o Adriano!
Acabo de percorrer o interior do país «de lés a lés». Onde a população, aos meus olhos, está entregue à sua sorte e a viver, ou pior, sobrevivendo, em localidades onde o Estado mais não é do que uma miragem.
Os últimos dados estatísticos (INE, 2014) dizem que somos 365.097 em Bissau. No entanto, existem 1.149.354 de pessoas no interior do país.
A Guiné-Bissau é de DATAS ESQUECIDAS!
Estamos como estamos: aguardando os barricados, o governo empossado, os polícias, os juízes, os bloguistas, etc. etc. Sem mais! Enquanto a CI continua complacente, num país fortemente dependente da ajuda externa, porque lê e estuda a nossa história, as nossas pessoas e afinidades, os indivíduos e interesses, os factos e feitos recentes, observando-nos no agora. Nós que aguardamos que os da sub-região apareçam, de novo, para paternalmente nos ajudarem a caminhar na terra fértil e promissora que Amílcar Cabral ofereceu para nossos próprios pés.
O fatídico 7 de Junho, que dizimou almas cujo número, por este andar, nunca se saberá, pouco interessa à história política e sobretudo à recente. Tudo: «Pa i bai suma mon di sal na iagu!». Ademais, é matéria desagradável e imediatamente se torna censurável a pessoa que tenha a desfaçatez de trazer o assunto à colação.
Para que foi tudo isso? Para estarmos assim? Ou seja: instabilidade política crónica, taxa de analfabetismo de 49,8%, em que 69% da população vive com menos de 2 dólares, só 10% da população possui água canalizada, classificados no 177.º no lugar Índice de Desenvolvimento Humano e com a esperança de vida de 54 anos de idade.
Por isso resolvi partilhar o vídeo abaixo e os que seguem. Porque devemos reflectir no FUTURO COLECTIVO, nos nossos filhos e nossos netos.
A revolta dos mais velhos
Carmelita Pires